5 reflexões básicas esquecidas pela sociedade hipermoderna:
1. O homem como um ser social e coexistente
A era hipermoderna nos traz o esquecimento de nossa realidade social. O que sou eu se não coexistência? As ciências naturais têm tentado naturalizar e objetivar o ser humano, mas como fazê-lo com toda sua complexidade? O indivíduo contemporâneo tem sido assolado com o liberalismo natural do individualismo fazendo o ser humano ser visto como criador de sua própria história, isento das variáveis sociais que o circundam. Antes de ser “eu”, somos “nós”, o homem se cria no momento que simultaneamente cria seu mundo, não há sujeito com aptidões inatas, há um sujeito que vive e existe numa sociedade baseada em éticas normativas que o fazem escolher e se implicar nessas escolhas, as aptidões são criadas e recriadas dentro do seu contexto sócio histórico cultural. Não há indivíduo em sua individualidade, existe sujeito em sua coletividade.
2. Patologias não são soma, são variáveis
Vivemos dentro de uma ótica médica curativa e como para toda cura deve existir uma enfermidade. Sigo uma linha de raciocínio na qual vejo os sintomas como um “Ei, olha mais afundo, tem algo aqui esquecido”. Quando se vive em prol de uma cura para um sintoma, se esquece que nós, enquanto seres humanos , dicotômicos e com mente-corpo em funcionalidade paralela, nunca teremos, ou não plenamente, uma vida dita saudável se deixarmos de levar em consideração o peso das nossas emoções e a repressão destas como uma variável imprescindível na nossa saúde. A somatização nada mais é do que emoções mal compreendidas, contatos mal sucedidos com o cerne de cada “eu”, desconsideração da saúde mental em foco pela saúde física. Mas então quer dizer que não existe doença? Existe e as ciências naturais estão para comprovar e objetivar, então, a quem cabe o papel de questionar além? É, sobra pra nós!
3. A falta de sentido
Cada ente existente nessa trama que se chama vida é acarretado de um sentido e com esse sentido, cria-sesignificados. Há aquele significado compartilhado socialmente, o de senso comum, onde se vê cadeira e é simplesmente uma cadeira. E existe aquele significado, recheado, transbordado de sentido, onde se vê uma cadeira e se enxerga o estado de poesia ali existente. O século no qual vivemos, coitado, anda desprovido de sentido, anda mendigandoser escutado, pois ouvido ele já o é. É mais prático sermos submetidos a algo comprovado, palpável, concreto, terminado, do que questionarmos o seu sentido oculto, o porquê de cada coisa e por onde cada coisa veio a ser o que se tornou. Então pergunto, o que se tornou é de que fato o que se é, ou o que se é foi feito pelo que nunca se tornou?
4. As paixões descartáveis e rasas
“O amor romântico está prestes a ter fim”, esse é o pensamento que acompanha várias discussões entre psicólogos e psicanalistas. O amor romântico teve seu ápice nos fins do século XVII , tendo-se então e finalmente a livre escolha de casar-se por amor! Mas que bela conquista, mas que belo momento. Século XXI e não se sabe mais qual o propósito do casamento, não se sabe mais se, se quer casar, não se sabe mais o que seja amar. Ah, que se dane o casamento! Mas o amor? Não, esse não merece um fim tão trágico. As paixões exacerbadas não dão espaço para o contato gradativo, para o encantamento sistemático, cada o conhecimento cotidiano.A ânsia do imediatismo, do toque, rápido e repentino, tem nos colocado numa geração de amores descartáveis. Sim, temos o poder da escolha do nosso lado, sim, temos o empoderamento sobre nossos corpos, sim, temos a vida que sonhamos! Será?
As mídias sociais tentam nos aproximar ao ápice do não precisar mais no contato físico para conhecer o outro. O contato dos olhos foi trocado pelo contato das palavras escritas, o contato da pele, foi trocado pelo contato do touch screen, e o contato da alma? Foi trocado pela troca de whatsapp. Devemos empoderar nossos corpos sem ponderar o amor?
5. O princípio empático
“Empatia é se colocar no lugar do outro”, mas até que ponto conseguimos ser o outro? O conceito de empatia teria surgido inicialmente da palavra da língua alemã Einfühlung (sentir dentro, sentir em), atribui-se ao filósofo alemão Robert Vischer, a invenção do termo, usado por ele em 1873 para descrever a experiência estética, para ele, a simples contemplação de uma pintura artística poderia provocar uma simpatia (sentir com) estética. Então o que vem a ser empatia e o que isso difere da simpatia? Creio que difere os termos é a forma de se doar ao outro.
Tentar introjetar os sofrimentos de outro ser humano é uma tarefa basicamente impossível, mas é totalmente possível o se “inclinar” para as dores e suas histórias de vida. Os valores e princípios culturais são a base para a personalidade humana, influenciando sua existência em coletividade, fazendo por vezes, serem vistos como onipotentes e tendo então o direito de julgamento sobre outro. Quem sou eu demais, além de eu mesmo e tudo que posso vim a ser com o que me permito ser, para julgar o que o outro pode vim a ser ou não ser? É este o dilema que atormenta a sociedade contemporânea, o ser empático à priori do livre arbítrio humano.Até que ponto meu ser empático me faz ficar inerte frente à decadência da onipotência humana?