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5 poemas de Deborah Brennand – a poeta do claro-escuro.

Deborah Brennand, obra de Roberto Ploeg (2008).

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Natural de Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte Pernambucana, Deborah Brennand ocupou a cadeira de número 37 da Academia Pernambucana de Letras (APL) e consagrou-se como uma das maiores poetas nordestinas de sua geração. A escritora foi casada com artista plástico Francisco Brennand, que foi quem incentivou o início da carreira artística de Deborah na década de 1960, junto a Ariano Suassuna e o poeta César Leal. Em 1964, Deborah passa a ter contato com um movimento literário chamado Grupo Jaboatão, que reunia jovens poetas da região metropolitana, poetas como Alberto da Cunha Melo, Janice Japiassu, Marcus Acioly, Carlos Cordeiro, Jaci Bezerra, Ângelo Monteiro, integraram o grupo, que mais tarde como Geração 65.

Sua participação no grupo lhe deu bastante visibilidade na cena cultural época. Entre as décadas de 1960 e 1980, o grupo Geração 65 contou com a imprensa pernambucana para a divulgação dos seus trabalhos, por meio da colaboração de jornalistas e escritores do Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Além disso, artistas plásticos como João Câmara e Francisco Brennand, também colaboravam ilustrando poemas nos jornais.


Deborah publicou obras como "O Punhal Tingido ou O Livro das Horas de D. Rosa de Aragão"(1966), "O Cadeado Negro" (1971), "Claridade" (1996) e "Letras Verdes" (2002). As melhores poesias foram reunidas em 2007 na antologia "Poesia Reunida", publicada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Em 2006, foram lançados dois filmes inspirados em suas obras, ambos dirigidos pela cineasta Deby Brennand Mendes, neta da escritora: “Letras verdes”, que é um documentário sobre a vida e a obra, e “Tantas e tantas cartas”, uma ficção baseada no livro homônimo. A poeta faleceu 26 de abril de 2015, Jaboatão dos Guararapes, onde morava.

Sobre sua poesia, ela mesma declarou:

"Eu não sei porque comecei a escrever poesia. É uma questão de sobrevivência. O pássaro sabe porque voa? Não. Então também não sei [porque escrevo]." (Deborah Brennand, em "Letras verdes", 2002.)


Questão de sobrevivência e contraposições.

A leitura de Deborah traz contrastes de sombra e luz, das coisas no fundo, da dor. Das metáforas que doem ao mesmo tempo que encantam. De seus textos pesados e maravilhosos, selecionamos 5 que expõem as principais características da autora. Em todos esses textos sentimos a presença da espera, um tema recorrente em sua obra. Deborah é claro-escuro, saída-espera, dor e delícia.

Que vocês se deliciem:

A visita

Longos e longos anos esperei uma visita,

mas só os ramos agitaram a ventania.

Disseram-me - o longe é sem fim.

Todavia, voltei àquele bosque

e lá só estava uma lua de cinzas.

Redisse então tudo o que foi dito:

o nome de flores clandestinas

À mais funda das raízes eu disse

- ermos são de almas vivas

e toda volta é um descaminho.

Felizmente, só estava no bosque uma lua de cinzas.

De amarelo

Hoje devo me vestir de amarelo:

espantar os olhos negros da solidão,

tal a luz do girassol de ouro dourado

que abre pétalas iluminando nuvens.

Quem saberá (nem ela mesma) o artifício

usado para enganá-la? Sonhos? Jardins?

Não digo. Hoje me visto de amarelo

e vou, nos ramos, entoar da ave o canto.

Quero espantar olhos de solidão

que vem das grutas e abandona montes

para comer a relva rubra do meu coração.

Mas hoje, de amarelo, espantarei a fera

Fugindo, à procura de outra vítima:

Quem sabe, a mata?

Não é crime

O degredo das flores

da umidade da mata

para uma varanda acesa

em arcos verdes

É permitido.

Atar os ramos em sombras?

e desatá-los na colina

ou varrer as cinzas de fogueiras

Na clara tarde de março

Ainda, ainda

Mas aquele pássaro voltando

querendo entrar na gaiola

já do lado de fora, do lado das rosas

é uma afronta às nuvens e à brisa.

Assim, matá-lo não é

Crime.

Sempre

Assim, além da cerca, eu espero,

O quê? Não sei. Espero.

Embora só o vento chegue

todo arranhado, em gemidos,

caindo e já sem sentidos

Jogue aos meus pés as folhas secas.

Você só diz

O que eu não quero ouvir.

Não fala de uma ilha

onde nasce um rio

que deságua céus.

Não lembra caminhos

indo, indo se esconderem

em matos e pedras.

Não ergue o facâo do sol

e faz zunir centelhas

nas alamedas do estio.

Nem traz assombros

de ramagens na noite

pisando o carmim das flores.

Você só diz – Eu te amo.

Assim não dá, é pouco

muito pouco para se levar a vida.

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