top of page

A poesia afiada de Larissa Santiago

Tirar os holofotes dos cânones da literatura é a grande engrenagem que move a literatura marginal e a Vitrine Poética do ControversoUurbano. Sendo assim, vagando pela atmosfera literária que habita em seres transeuntes dos mesmos passos que nós, essa edição da Vitrine apresenta o peso da voz de Larissa Santiago.

Larissa é baiana, feminista negra, publicitária, militante e mora, atualmente, em Recife. Seus poemas podem ser lidos no blog Mundovão, ela escreve para o Blogueiras Negras e para o Afrodelia.

[Instável ]

se a vida fosse uma tarde de cerveja uma música em yorubá deleite se a vida fosse um pôr do sol um mergulho na Barra passeio de barco dança de Orixá estaria feliz todo dia que nem meninas apaixonadas crianças que ganham presentes velhinhos jogando xadrez que desejo mais besta a vida nunca é o que se deseja nunca será não perderei mais minhas tardes no posto na cerveja chega

o que desejo não existe cessa, agonia

[ O Poeta Morto]

se aproxima da gente sorridente, mas tímido tava quente mercado da boa vista como vai? tais ausente mirou triste, voz baixinha silenciou senta, bebe com a gente! deu rompante andou tropeçante e nunca mais foi visto a poesia ficou triste de chorar tornou-se ofegante

[sem nome]

quando tudo dói quando o peito brota quando a cama aperta só resta o verso o inverso do alívio outro lado do amor quando a chuva dói quando a cabeça cai quando a saudade vem só há palavra concretude sensível dor indizível hipertensão quando a noite convulsa só a caneta salva

[ observação ]

falta pouco pra quinta e Recife nem respira os olhos magnéticos na rua atraem minha saudade coisa feita diria minha vó como são as histórias nossas rápidas passadas perdidas como um olhar da janela do Caxangá

  • Qual, e como é a sua relação com a poesia?

A minha relação com a poesia é bem doida, porque desde que eu me lembro sou apaixonada por ler poemas tristes, poetas melancólicos. Me lembro que meu primeiro poeta namorado foi Castro Alves. Depois dele, nunca mais parei e anos depois (mais especificamente em 2005) comecei a escrever e registrar as poesias num blog. Todas as vezes que usei poesia - seja lendo ou escrevendo - foi uma experiência muito libertadora e eu costumo dizer que sempre foi a poesia que me salvou.

  • Quais são as suas leituras poéticas mais constantes?

Ultimamente tenho lido pouquíssima coisa, mas sempre sempre que preciso leio Miró, Caju e Adélia Prado. Essa última, eu aprendi a gostar com Elisa Lucinda. Miró é meu vício desde sempre e Caju porque está presente nas redes, aí de repente ele surge e quando vejo, já estou imersa. Apaixonada sou por ele!

  • O que as pessoas que tiverem contato com seus poemas vão ler? Sobre o que eles falam? Em que espaço eles acontecem? Que referências eles tem?

Vão ler muita coisa ruim, de fato. Eu não sei escrever, não sou das métricas nem dos sonetos. Nunca aprendi fazer isso. Mas tem algumas coisas boas, que falam sobre mim, sobre minha relação com as cidades, com meus medos, minhas descobertas e alguns amores.

Como referência, há sempre um poeta aqui ou acolá. O jeito de Arnaldo Antunes, as tristezas de Adélia Prado, o suicídio de Pedro Moraleida, a identidade de Solano Trindade. Sempre tem alguém na minha poesia, conhecido ou não. Mas tem muito de mim e do meu trânsito por aí.

Leia também

bottom of page