top of page

A cada novo Sarau um céu diferente


A cada novo evento, sente-se o crescimento do Controverso Urbano, que começou com uma proposta simples de realização de um sarau ao ar livre e hoje une vários outros elementos da cena contemporânea, trazendo a afirmação política de artes marginais, performances notáveis, um pessoal que aceita abrir mão da tarde de sábado e a presença de coletivos que sempre entram como fortalecimento da causa que inicialmente abraçamos (e que continuamos a abraçar enquanto podemos). Já que a cultura marginal é naturalmente independente, justo é unir forças e ocupar os espaços: hastear uma bandeira de existência ainda que estejamos sem dinheiro no bolso, pois o que quer que seja gerado pode adquirir uma força que pelo menos influencie o todo a ir em frente, mesmo que nos frustremos...

Já sem me dar conta de qual o número deste último evento, sendo que ele foi intitulado de Sarau de Fraldas, diante da celebração à chegada de Céu, o rebento do nosso companheiro de causa, Tácio Russo, com sua gentil parceira, Débora Alencar (esta do alto de seus nove meses de gestação), que preparou até um lanchinho agradável para os presentes, com os melhores sanduíches dos últimos tempos e um bolo celeste que só quem provou sabe como estava bom... o sarau iniciou com um ritual quase indígena envolvendo os referidos pais da criança, a criança em seu oceano uterino, e as mulheres que se encontravam, um círculo de positivação que abriu alas para todos os momentos posteriores.

Tivemos a acolhida presença da Sociedade dos Poetas Bêbados, dos amigos do Sarau do Bosque, Ocupe Estelita, Coletivo Bagaço, entre outros, e no nosso varal acontecia a exposição dos desenhos autorais da Anne Souza. A roda de poesia fluiu até umas horas, como sempre principiando acanhada, todavia apresentando mais tarde ocorrências ocasionais de congestionamentos clássicos. Vimos poemas de autores conhecidos sendo declamados, letras de rap, a música do Sérgio Sampaio num dueto memorável e paralelo ao sarau ocorria o ensaio do Coletivo Bagaço, trazendo a interação e o compromisso dos membros, contrários à ideia da “arte pela arte” e a preocupação com uma harmonia da cultura e da política como significação do “Nós”. A Amanda Timóteo ressaltou a minha observação da luz do parque, que estava confluindo com o nosso círculo e nos iluminando depois que a noite começou a despencar. De fato.

O Sarau de Fraldas encerrou-se com o batuque do Coletivo Bagaço, trazendo a capoeira, um salve ao Zé Negão, ao coco, ao frevo, e reavivando o espírito do funk da periferia (nisso, cito uma contribuição da Amanda com uma paródia feminista bem louvada). Saúde ao Controverso Urbano, saúde à todos que contribuíram e que contribuem conosco, saúde ao 13 de Maio, aos marrecos zoando, à tarde que não choveu e à criança que já já vem à luz. De uma coisa fico certo: lá vai o trem.

Leia também

bottom of page