Lucas Fernando Amorim entrevista o poeta Zizo
Nome: Zizo
Último projeto artístico lançado (livro, zine, folheto, álbum solo ou de banda, exposição etc): Urros & sussurros (SUE) e LOBA (Micro revista)
O que seria o zine, atualmente? Há diferença entre o folheto?
O zine por si só, é um folheto, lascando, anarquizando, incendiando.
Como você enxerga o potencial literário do folheto e/ou do zine?
O potencial literário do zine não cabe em cabide acadêmico, porque há sangue quente na verve, não é anêmico nem epidêmico por tal ostentação.
É possível construir uma estética poética que habita exclusivamente os zines e/ou folhetos?
É possível sim. Tá dependendo da turma que aluga tal espaço e põe o recado, o legado. Pregando seus conceitos ao tal esparadrapo.
Você concorda com a ideia de que a academia (lê-se os cursos de graduação em Letras) toma distancia proposital dos autores e o do “movimento” literário dos zines e/ou folhetos?
Ó....Quem liga pra isso? Osvaldo de Andrade? Mario Quintana? Paeu? Torquato Neto? Tom zé? Xico Sá? São tantos adornos, artifícios pra esse hospício.
É possível afirmar que os folhetos e os zines são portas democráticas e acessíveis para escritores ou artistas que não fazem parte das “grandes editoras”. Quais as causas e consequências disso?
É possível sim, e como é... porque por ser coletivo, acomoda todos unidos numa só estripulia vagante.
O zine e/ou folheto, pode(m) ser considerado(s) marginal? O que seria “ser marginal” na arte, atualmente, para você?
Marginal inteiro, canteiro, parteiro de signos e significados. Dentro da arte marginal, o teatro, cinema, plínio marcos, miró, isaar, publius, etc.
Além das respostas, o poeta Zizo me mandou dois poemas.
Tentarei transcrevê-lo o mais próximo possível da versão escrita original. Zizo não respondeu a essa entrevista por computador. Ou por e-mail.
Nada disso. Só no papel e na ponta da caneta.
E no papel físico.
Parece que o poema foi feito especialmente para essa matéria.
“Declaro para os devidos fins
Que todo poeta tem seus confis.
Entre Sartre e Camus
Entre Borges e Neruda
A náusea e a peste
O ser e o nada.
Servem na sua estrada
Tal qual Chaplin, como vagabundo
Carlitos.
Mastigando e quebrando
Palitos
Pelo espetáculo do existir
E resistir
Neste circo, neste palco
Onde o sonho fascina.”
“Deveras, devoras, demoras
Pela Atlântida gênese onde escoras.
Estudo como estatuto para o ser e o estar
Menos quimeras para aderir a adereços
A poesia por si só tem seus passos por mil berços
Por esse motivo ela voa e pousa
No centro a lhe restar
Vive sob a verve do poeta
É brava na breve de sua meta”
Zizo,
2-5-2016
p/ Lucas Amorim
Finalizo aqui, com este grande poeta anárquico, esta matéria que durou três meses, contendo entrevistas com Ítalo Dantas, Patricia Naia, Camillo José, Cecília Viallanova e o Zizo. Todos poetas de Hellcife.