O Movimento dos escritores independentes de Pernambuco , A poesia Marginal e o afastamento do cânone
O Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco (MEIPE), surgiu na década de 80, na cidade do Recife. Criado na época por escritores jovens, foi um meio de divulgar e difundir a literatura sem que o sistema opressor da época os impedisse. O Movimento tinha como objetivo, além de lutar através dos versos contra a Ditadura, também fugir ao que as editoras tinham como ideal de criação literária. Em uma entrevista ao Jornal do Comércio no ano de 1989, o poeta e um dos coordenadores do Movimento, Eduardo Martins diz que o MEIPE nasceu diante das frustrações sofridas perante a burocracia literária existente […] e era encabeçado por escritores que tinham (e têm) o desejo de levar a poesia às ruas e consequentemente ao povo. A maior característica do movimento é a identificação com as bases.
Os Independentes levavam a arte que era tida apenas como um meio de se conseguir lucros e algo distante do povo para os locais onde se encontravam as massas. Faziam recitais pelas ruas e praças, editavam seus próprios livros e os vendiam a preços acessíveis. A escritora do MEIPE, Fátima Ferreira em entrevista, relembra que os escritores marginais da década de 80
Além de pão queríamos circo e liberdade, que nos foram esgotados pela ditadura militar. E então tomamos as ruas com nossa poesia, produzindo nossos livros sem interferência de editoras, vendendo-os de mão em mão, nos bares, universidades e ruas, sem atravessadores (2014).
Afastam-se do cânone literário por não seguir os padrões literários da época, por escrever e não se submeter as regras de publicação das editoras que estavam submissas ao poder do Estado.
Leyla Perrone-Moisés em sua obra "Altas literaturas" descreve que o cânone "No âmbito do catolicismo, também tomou o sentido de lista de santos reconhecidos pela autoridade papal. Por extensão, passou a significar o conjunto de autores literários reconhecidos como mestres da tradição." Os escritores do MEIPE estavam às margens daquilo que pregava a cultura editorial, suas produções não seguiam a estética de nenhuma escola literária da época, não tinham um padrão de escrita, baseavam-se na livre expressão de forma e temas sobre os quais escreviam.
O MEIPE foge dos padrões estabelecidos pelo capitalismo, o conhecimento produzido pelos Independentes (a poesia, a arte) não fica nas mãos de poucos, mas se difunde entre aqueles que o exclui. A poesia dos Independentes atinge aqueles que nunca deveriam ter acesso à arte, de acordo com o modelo capitalista, de acordo com as políticas editoriais da época.
A poesia marginal dos escritores do MEIPE foi tomando os espaços do Recife, apesar da resistência da crítica conseguiram causar alvoroço
Aquela trupe que saiu às ruas com a boca 'inflamada' de versos, começou a incomodar. Queriam nos fazer calar. Era inevitável que chegássemos incômodos variados aos que manipulação os pequenos espaços culturais existentes, já que nós os desarticulávamos quando levávamos a poesia às ruas 'sem cartão de ponto', de graça. Não estavam acostumados com a poesia livre nas calçadas. De dentro dos seus gabinetes, organizaram mutirões com o dinheiro público, lançamentos de livros e motins. A nós bastava apenas um hidrante, a copa de uma árvore ou uma pedra filosofal para que realizássemos os nossos recitais (2014).
A ideia de levar cultura ao povo, disseminar a poesia, distribuir seus livros e protestar contra uma cultura editorial pautada nos lucros foi ganhando força, os poetas do MEIPE, entre eles Francisco Espinhara, Cida Pedrosa, Wilson Freire, Eduardo Martins e outros, acreditavam no Movimento e criaram uma nova maneira de encarar a edição, publicação e divulgação de sua literatura.